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A escala de trabalho 6×1, há muito tempo, é um modelo enraizado em diversos setores da economia brasileira, especialmente no comércio, serviços e indústria.

Ela permite a operação contínua e a cobertura de horários estendidos, mas também é um ponto de debate sobre qualidade de vida e o bem-estar do trabalhador.

Recentemente, a discussão sobre o fim dessa jornada e a redução da carga horária semanal ganhou força no Congresso Nacional e nas redes sociais, levantando questões cruciais que impactam diretamente a gestão de pessoas e a saúde financeira das empresas.

Para gestores de RH, administradores e profissionais de Departamento Pessoal, compreender os possíveis desdobramentos dessa mudança é fundamental para se antecipar a um novo cenário trabalhista.

Este conteúdo explora o histórico da escala 6×1, os argumentos dos defensores e opositores da mudança, e as estratégias que as empresas podem adotar para se preparar para uma eventual nova legislação.

 


  Leia também:  
Como fazer a gestão de carga horária de trabalho na sua empresa.

 

O que é a Escala 6×1 e por que ela é tão comum?

A escala 6×1 é um regime de trabalho onde o colaborador trabalha seis dias consecutivos e tem direito a um dia de folga. De acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a jornada semanal máxima é de 44 horas.

Para cumprir essa carga horária, as empresas costumam distribuir a jornada diária em 7 horas e 20 minutos, de segunda a sábado, com a folga semanal remunerada sendo preferencialmente aos domingos, conforme a lei.

A popularidade dessa escala se deve, em grande parte, à sua flexibilidade para as empresas. Por conta disso, ela permite manter as operações em funcionamento durante os fins de semana e feriados, garantindo a produtividade em setores que não podem parar.

Lojas, restaurantes, hospitais e call centers são alguns exemplos de ambientes onde a escala 6×1 é amplamente utilizada. Contudo, apesar de ser uma prática legal, a jornada 6×1 é frequentemente criticada por sindicatos e defensores dos direitos trabalhistas.

Eles argumentam que a carga horária intensa e a folga única por semana, muitas vezes em dias não úteis, prejudicam a saúde física e mental dos colaboradores, limitando seu tempo de descanso, convívio familiar e lazer.

 

mulher exausta na mesa de trabalho de frente ao laptop

 

O debate em pauta: A proposta no Congresso Nacional

A discussão sobre o fim da escala 6×1 não é nova, mas ganhou um novo fôlego com a apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) na Câmara dos Deputados.

O projeto, apoiado por parlamentares e por movimentos sociais, visa reduzir a jornada semanal de trabalho para 36 horas, distribuídas em quatro dias de trabalho e três de folga (escala 4×3).

Os defensores da proposta argumentam que a redução da jornada, sem a diminuição salarial, é uma tendência global impulsionada pelo avanço tecnológico e pela necessidade de um maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Eles acreditam que a mudança traria benefícios como:

  • Aumento da produtividade: Um colaborador mais descansado tende a ser mais focado e produtivo.
  • Melhora da Saúde Mental e Física: Mais tempo para descanso e lazer reduz o estresse, o esgotamento e o adoecimento.
  • Aumento da Qualidade de Vida: Mais tempo para a família, hobbies e desenvolvimento pessoal.
  • Estímulo à Economia: Mais tempo livre pode impulsionar setores como turismo e entretenimento.
  • Geração de Empregos: A necessidade de cobrir a jornada reduzida poderia levar as empresas a contratar mais funcionários.

Por outro lado, a proposta enfrenta forte resistência de entidades patronais, como a FecomercioSP e a Fiesp.

Elas alertam para o alto custo da medida para as empresas, que teriam de arcar com um aumento significativo no valor da hora trabalhada.

Os principais pontos de preocupação incluem:

  • Aumento de Custos: A redução da jornada sem a redução salarial eleva o custo por hora de trabalho, podendo chegar a 37,5%, segundo estimativas da FecomercioSP.
  • Impacto Inflacionário: O aumento dos custos de mão de obra poderia ser repassado para o consumidor, elevando os preços e gerando um cenário de inflação.
  • Risco de Desemprego: Muitas empresas, principalmente as pequenas e médias, podem não ter condições de absorver o aumento de custos e seriam forçadas a demitir parte de seus funcionários para manter o negócio.
  • Desestruturação de Setores: Setores que operam 24 horas por dia, como a indústria e os serviços essenciais, teriam que reorganizar completamente suas operações, o que poderia ser complexo e oneroso.
  • Perda de competitividade: Empresas brasileiras poderiam perder competitividade no mercado global devido ao aumento dos custos de produção.

O debate ainda está em andamento, e a PEC precisará passar por diversas etapas de tramitação no Congresso antes de se tornar lei.

O Ministério do Trabalho e Emprego já se manifestou a favor da discussão, mas defende que a questão seja tratada por meio de acordos e convenções coletivas, e não por uma imposição legal.

 

equipe debatendo projetos no escritório

 

Impactos para as empresas: Um cenário de reorganização e estratégia

Para os gestores, o fim da escala 6×1 representa um desafio de adaptação. A mudança exigirá uma revisão completa das práticas de gestão de pessoas e das operações do negócio.

Gestão de custos e folha de pagamento

O principal impacto financeiro para as empresas será o aumento do custo da mão de obra.

O Departamento Pessoal precisará recalcular as folhas de pagamento, considerando o novo valor da hora de trabalho, sem a redução salarial.

Isso pode pressionar os orçamentos e exigir um planejamento financeiro meticuloso.

Reestruturação de escalas e operações

A equipe de administração e o RH terão a tarefa de reestruturar as escalas de trabalho para garantir a cobertura operacional.

A escala 4×3, embora seja a principal proposta, não é a única alternativa.

As empresas podem explorar modelos de escala 5×2, 12×36 ou outras configurações que se adequem às necessidades do negócio, sempre em diálogo com os colaboradores e sindicatos.

A reorganização de escalas demandará um software de gestão de escalas robusto e um planejamento estratégico para evitar lacunas de serviço.

Aumento da produtividade e capacitação

Para compensar a redução da jornada, as empresas precisarão investir em eficiência e produtividade.

O RH desempenhará um papel crucial, promovendo treinamentos para otimizar processos, utilizar novas tecnologias e capacitar os colaboradores a serem mais eficazes em menos tempo.

Com isso, a implementação de ferramentas de automação e a revisão de fluxos de trabalho se tornarão prioridades para a gestão.

Atração e retenção de talentos

A nova jornada de trabalho pode ser um poderoso atrativo para novos talentos.

Empresas que se adaptarem rapidamente à nova legislação e oferecerem um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional podem se destacar no mercado.

Desta forma, o RH pode usar a nova escala como um diferencial competitivo, fortalecendo a marca empregadora e reduzindo a rotatividade de funcionários.

 

mão e filho sentados na sala olhando laptop

 

Impactos para os colaboradores: Qualidade de vida e desafios pessoais

A mudança na escala de trabalho impacta diretamente a rotina dos colaboradores.

Além disso, a proposta visa trazer melhorias significativas para a vida pessoal e profissional, mas também pode apresentar novos desafios.

Maior qualidade de vida e bem-estar

O principal benefício para os colaboradores será o aumento do tempo livre. Um fim de semana de três dias pode ser usado para descanso, lazer, estudos, cuidados com a família e desenvolvimento de hobbies.

Esse tempo extra pode levar a uma redução nos níveis de estresse e esgotamento, melhorando a saúde mental e física geral.

A Fundacentro, instituição ligada ao Ministério do Trabalho, aponta que jornadas extensas estão diretamente ligadas ao risco de acidentes e adoecimento dos trabalhadores.

Desafios de adaptação

A transição para a nova jornada pode exigir uma adaptação pessoal e familiar. A nova rotina, com dias de folga no meio da semana, pode demandar uma nova organização da vida pessoal.

Além disso, a eventual necessidade de intensificar a produtividade durante a jornada de trabalho pode gerar uma pressão adicional.

Risco de desemprego e perda de renda

O lado negativo para o colaborador está no risco de desemprego. Se as empresas não conseguirem absorver os novos custos, podem ocorrer demissões em massa.

Ainda mais, a redução da jornada sem a compensação salarial completa pode levar à perda de renda, o que é um ponto de preocupação para muitas famílias.

É fundamental que as discussões no Congresso garantam que as mudanças ocorram sem redução de salário, como defendem os sindicatos.

 

colegas de trabalhos reunidos para um café

 

Exemplos globais: A semana de 4 dias e seus impactos reais

A redução da jornada de trabalho não é uma teoria; é uma prática que já está em fase de teste e, em alguns casos, já é permanente em diversos países.

Os resultados obtidos nessas experiências fornecem insights valiosos sobre os possíveis impactos a médio e longo prazo, mostrando que a produtividade e o bem-estar podem, sim, coexistir.

Islândia: O caso de sucesso que inspirou o mundo

Entre 2015 e 2019, a Islândia conduziu um dos maiores experimentos de jornada de trabalho reduzida do mundo.

O projeto envolveu cerca de 2.500 trabalhadores, o que representa aproximadamente 1% da população economicamente ativa do país.

Os colaboradores, que atuavam em diferentes setores (desde escritórios a serviços manuais e hospitais), tiveram sua semana de trabalho reduzida para 35 ou 36 horas, sem qualquer diminuição salarial.

Os resultados foram notáveis:

  • Produtividade Mantida ou Aumentada: A maioria dos locais de trabalho manteve a produtividade, e alguns até registraram um aumento.
    A razão para isso foi o foco na eficiência: os gestores e as equipes eliminaram reuniões desnecessárias, otimizaram processos e se concentraram em tarefas de maior valor.
  • Melhora no Bem-Estar: Houve uma redução significativa no estresse e no esgotamento (burnout) dos trabalhadores.
    Os colaboradores relataram mais tempo para a família, hobbies e atividades físicas, o que resultou em uma melhoria perceptível na saúde mental e física.
  • Redução do Presenteísmo: O número de colaboradores presentes fisicamente, mas com baixa produtividade devido à falta de foco ou motivação, diminuiu consideravelmente.

Em virtude desses resultados positivos, os sindicatos da Islândia negociaram com o governo e com as associações patronais.

Hoje, a maioria dos trabalhadores islandeses têm o direito de ter uma jornada de trabalho reduzida, seja por meio de acordos coletivos ou de outras flexibilizações.

A experiência islandesa serve como um forte argumento de que a redução da jornada é economicamente viável e socialmente benéfica.

Para mais detalhes sobre esse estudo, você pode consultar o relatório da Autonomy, uma organização de pesquisa que acompanhou o projeto.

Nova Zelândia: A empresa que virou exemplo de liderança

A Perpetual Guardian, uma empresa da Nova Zelândia, é frequentemente citada como um dos primeiros exemplos de sucesso na adoção da semana de 4 dias.

Em 2018, a empresa realizou um teste de oito semanas, oferecendo aos 240 colaboradores a oportunidade de trabalhar quatro dias por semana, mantendo o mesmo salário de cinco.

Os resultados foram tão positivos que a empresa decidiu adotar a prática permanentemente:

  • Aumento da produtividade em 20%: A produtividade por hora trabalhada teve um aumento significativo, já que os colaboradores se sentiam mais motivados e focados.
  • Queda do estresse em 45%: O nível de estresse relatado pelos funcionários caiu drasticamente.
  • Melhora na Liderança e na Cultura: Os gestores precisaram aprimorar suas habilidades de liderança e comunicação para garantir que as equipes estivessem alinhadas e produtivas na jornada reduzida.
    A empresa viu uma melhoria na satisfação dos colaboradores, na colaboração e no senso de pertencimento.
  • Fortalecimento da Marca Empregadora: A política de semana de 4 dias se tornou um diferencial para a Perpetual Guardian, que se destacou como uma empresa inovadora e com forte preocupação com o bem-estar dos funcionários, atraindo talentos de alto nível.

O CEO da empresa, Andrew Barnes, se tornou um dos principais defensores da semana de 4 dias em todo o mundo, fundando a 4 Day Week Global, uma organização que ajuda outras empresas a implementarem o modelo.

Reino Unido e outros países: Testes com resultados animadores

Vários países, incluindo o Reino Unido, Espanha, Japão e Estados Unidos, também realizaram ou estão em processo de testes similares.

O maior deles, no Reino Unido, envolveu cerca de 61 empresas e mais de 2.900 trabalhadores, com resultados igualmente promissores.

A maioria das empresas participantes relatou que a produtividade se manteve e que a redução do estresse e do absenteísmo foi notável. Muitas delas decidiram manter o modelo de forma definitiva.

Esses exemplos demonstram que, embora a transição não seja simples e exige um esforço coordenado de gestores, RH, colaboradores e líderes, os benefícios a longo prazo são significativos. Eles incluem:

  • Aumento Sustentável da Produtividade: Foco em eficiência, não em horas.
  • Redução de custos indiretos: Diminuição de absenteísmo, rotatividade e despesas com energia nas empresas.
  • Fortalecimento da Marca e da Cultura: A atração e retenção de talentos se tornam mais fáceis.
  • Melhoria da Saúde Pública: Adoecimento e esgotamento profissional se tornam menos frequentes.

Em suma, a experiência global sugere que a redução da jornada de trabalho é uma mudança sistêmica que exige planejamento e adaptação, mas que tem o potencial de redefinir o futuro do trabalho de forma mais humana e produtiva.

 

baias de call center com pessoas trabalhando

 

Estratégias de adaptação para a gestão de pessoas

Profissionais de RH, Departamento Pessoal e Administração podem se preparar para o novo cenário com um planejamento proativo.

Análise e simulação de cenários

Utilize ferramentas de People Analytics para simular os impactos da nova jornada na folha de pagamento, na produtividade e na capacidade operacional da empresa.

Compare diferentes modelos de escala (4×3, 5×2, etc.) e identifique qual se encaixa melhor nas necessidades do seu negócio.

Diálogo com colaboradores e sindicatos

Crie canais de comunicação transparentes para discutir a proposta com os colaboradores.

O envolvimento da equipe na construção das novas escalas pode gerar maior engajamento e aceitação.

Além disso, a negociação com os sindicatos será um passo fundamental para a formalização de acordos coletivos que atendam tanto aos interesses da empresa quanto aos dos trabalhadores.

Investimento em tecnologia e treinamento

A tecnologia será sua aliada. Por isso, invista em sistemas de gestão de ponto e escalas que permitam uma transição suave e que garantam a conformidade com a nova legislação.

Ofereça treinamentos focados em produtividade, gestão do tempo e novas ferramentas de trabalho, preparando os colaboradores para serem mais eficientes na jornada reduzida.

Revisão da cultura organizacional

Uma nova jornada de trabalho pode ser a oportunidade ideal para rever a cultura da empresa.

Promova uma cultura de confiança, autonomia e foco em resultados, em vez de horas trabalhadas. Isso incentivará os colaboradores a gerenciarem melhor seu tempo e a se sentirem mais valorizados.

 


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Conclusão: Um futuro de oportunidades e desafios

O fim da escala 6×1 e a possível redução da jornada de trabalho representam um momento de profunda transformação no mercado de trabalho brasileiro.

A mudança, se aprovada, terá impactos complexos e multifacetados, exigindo de gestores e colaboradores uma nova mentalidade.

Para as empresas, o desafio será equilibrar a saúde financeira com o bem-estar dos funcionários, buscando soluções criativas e estratégicas para manter a competitividade.

Para os colaboradores, a promessa de maior qualidade de vida se mistura com a incerteza sobre o futuro do emprego.

Neste cenário de mudanças, a proatividade e a capacidade de adaptação serão os maiores diferenciais.

O RH e o Departamento Pessoal têm a oportunidade de liderar essa transição, garantindo que ela seja justa, transparente e benéfica para todos.

A evolução do trabalho é uma jornada contínua, e o Brasil pode estar prestes a dar um passo significativo em direção a um futuro mais equilibrado e humano.

 


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